Vamos prosseguir com nossa história. O sonho do filho mais jovem se torna uma triste realidade. Ele gasta sua herança dissolutamente, e após uma providencial crise, a bíblia diz que aquele filho “caiu em si”. Eu gosto desse termo “caiu em si” pelo que esse momento representa na história, é o momento da virada. Significa que o filho deixou de se enganar, olhou para si mesmo sem se iludir, enxergou qual era a sua realidade sem se ludibriar com sua “pseudo” liberdade, olhou para o alimento dos porcos e viu o que eram: alimento de porcos, deixou de romantizar sua situação, e isso significa crescimento e amadurecimento. Só cai em si quem reconhece sua realidade distante do Pai, só cai em si quem sabe a origem da sua natureza pecaminosa, só cai em si quem reconhece sua miséria, só cai em si quem enxerga suas roupas manchadas pelo pecado e sabe que sozinho não é capaz de se purificar.
Rapidamente o filho cria um plano. Está tudo na sua cabeça, ele planeja como vai se aproximar, e o que vai dizer ao seu Pai. Nesse instante o filho pródigo demonstra conhecer mais o caráter do Pai do que aquele filho que ficou. Ele não tem um plano B, uma saída no caso do Pai não lhe aceitar de volta.
Seu plano é executado com exatidão. Mas algo inesperado acontece. Uouuu! O Pai lhe esperava no portão. Existe cena mais poética? O Pai, aquele mesmo que havia sido esquecido, trocado, rejeitado. Ele mesmo, o próprio esperava a volta do filho amado, ao avistá-lo, comovido corre ao seu encontro e o beija. Nesse ponto da história quero fazer um paralelo agora com a queda do homem no jardim do Éden.
“Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente. O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida.” (Genesis 3:22-24)
Após a queda, o homem foi expulso do Éden. Imagine uma dramática separação, o homem do lado de fora, Deus do lado de dentro, os anjos guardam a entrada do jardim. Os dois se olham pelas frestas dos arbustos, o coração de Deus está chorando, o coração de Adão está chorando. Talvez Deus tenha chorado aquele dia, e Adão tenha chorado todas as tardes dos dias posteriores. Era definitivo, não haveria um resgate. Ninguém sentiu o que Adão sentiu.
Nessa parábola também houve uma separação. O filho quis algo que não lhe pertencia, toma uma decisão e parte, os dois se olham na partida. O coração do Pai chora novamente. Mas ao contrário da queda, Jesus vem para nos dizer que Deus não estava mais do lado de dentro, e nem haviam anjos guardando a entrada de casa. Oh Aleluiaaaa! Podíamos regressar, Ele, o Filho mais velho havia aberto as portas de casa! O Filho mais velho, pessoalmente, garantiu nosso retorno ao lar!
Confesso que não consigo mais desvencilhar essas duas passagens. Para mim elas estão intrinsecamente ligadas, uma é a resposta de Deus para a outra. E não consigo deixar de me emocionar quando percebo que a queda não foi digerida, me emociono ao perceber que Deus não virou a página simplesmente e seguiu. Não! Ele desejou reescrever a nossa história! E o fez através do sacrifício da cruz.
O filho retorna, há festa e regozijo na casa do Pai. O filho mais velho chega e mais uma vez dá uma demonstração de como era seu comportamento, sua auto-imagem distorcida, e sua total ignorância quanto a sua filiação. Ele pergunta ao empregado, ao invés de entrar em casa e ver o que estava acontecendo. E de maneira egoísta (lembre-se que a Bíblia diz que o Pai “repartiu” os bens entre eles), ele tem um “siricutico” diante de casa.
Isso te lembra alguma coisa? Muitos dos que não partiram, ficaram não porque desejavam ficar, quantos ficaram por medo? Quantos ficaram para ter mais direitos? Quantos siricuticos vemos nas nossas igrejas daqueles que “TÊM” direito porque sempre estiveram lá, porque ajudaram nos dias difíceis, porque o dízimo salvou a pátria, porque trabalharam de maneira incansável, porque “obedeceram” todas as leis? No reino não existe USOCAPIÃO, e aos pés da cruz queridos, o terreno é nivelado, e não há nada que possamos fazer que nos justifique.
Nossa reconciliação com Deus na figura do Pai é marcada através de Jesus porque Deus queria nos dizer que não queria servos, empregados ou trabalhadores. Ele deseja encontrar em nós: FILHOS AMADOS. E porque nós insistimos em nos comportar como empregados, agregados quando podemos tomar posse da nossa filiação em Deus?
Uma coisa ficou muito clara para mim que ouvi coisas horríveis sobre o filho pródigo durante toda a minha vida: Não existe diferença entre o filho que foi, nem o que ficou. Ambos não conheciam intimamente o Pai, e ambos não tinham noção da dimensão do Seu amor.
Nós somos o filho pródigo, e somos também o filho mais velho. Somos ingratos, amantes de nossos próprios deleites, focados no nosso próprio bem. Não somos merecedores, não somos dignos, mas é certo que o Pai nos diz: Vem filho, você estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado!
E o nosso Pai não te apenas novas vestes, novas alparcas, e um anel para nós. Ele tem novidade de vida, uma nova história e um novo relacionamento com Ele. O nosso Amado Pai!